Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
26 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    ARTIGO - Capitalismo Social ou Socialismo Capitalista?

    Desde 2004, ano sim, ano não, eclode uma crise financeira com repercussões econômicas mundiais. Tenho feito reflexões que gostaria de compartilhar, especialmente porque agora em 2011, voltamos a uma crise com problemas iguais ou piores que o mais grave período de 2008. Vivemos um período de transição do capitalismo e welfare state para algo que ainda não sabemos bem o que é.

    Neste sentido surgem duas conclusões: (a) o capitalismo como o conhecemos vai mudar; (b) o que substituirá o modelo atual será influenciado pelo modelo chinês.

    O capitalismo atual baseado no consumo individual crescente, no elevado estado de bem estar social, não se sustenta pela finitude dos recursos. O modelo foi induzido por crédito e finanças artificiais, as quais ultrapassaram em muito a produção e os recursos materiais efetivos. Esta realidade fica mais evidente na crise dos Estados Unidos. O ciclo virtuoso iniciado com Keynes em 1929 se exauriu por um colapso na confiança geral decorrente do endividamento público e por um sistema financeiro descolado, autônomo da economia real.

    O período de transição que antecedemos será marcado, dentre outras coisas, pela inversão de capital em ativos reais, notadamente ouro, imóveis e moeda dos BRICs. Isso vai criar uma elevação artificial de ativos (até em Cuiabá o m2 de um imóvel subiu dez vezes em quatro anos). Arrisco dizer que o modelo chinês veio para ficar e vai afetar o mundo porque as reservas chinesas em U$ 3 trilhões é igual ou maior que o programa de ajuste individual das economias do G7.

    A lógica chinesa será determinante neste processo, ela não é orientada pelo consumo crescente, mas sim para o controle de custos, regulação de margem de lucros, restrição de direitos econômicos. O tigre estabelece crescente infraestrutura pública como fator de tração econômica, amplitude e escala com preços reduzidos, público alvo na cauda longa e seletividade estatal interativa de produção e consumo. Logo, em um extremo temos o modelo do G7, e noutro extremo o modelo chinês de um capitalismo social (ou sei lá.. de um socialismo capitalista).

    Na história da humanidade o novo modelo se estabelece pela colisão e conflito (guerras, dominação, colonialismo, espionagem, terrorismo beligerante ou econômico, etc). Penso que neste primeiro momento o conflito beligerante está afastado porque iria destruir ativos que são lastro para o crédito. Mas em um segundo momento, um ajuste entre produção e consumo pela guerra redutora da população só pode ser evitado pelo crescimento compensador dos BRICs e pela rediscussão de direitos coletivos, adequando-os.

    Na direção do desenvolvimento dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) considero que Brasil, e Mato Grosso, precisam acelerar sua infraestrutura econômica, erradicar o isolamento dos municípios, diversificar a produção e democratizar acesso aos bens e serviços (públicos, inclusive). É necessário incorporar a industrialização e os excluídos, ampliar escala e atuar também na cauda longa, produzindo a custos e preços decrescentes. Em resumo, há necessidade de se repensar o nível e a qualidade dos gastos, adequando-os tanto no setor público como privado a uma nova realidade, preferencialmente vinculada a efetiva capacidade de produção e obtenção de meios suportados pelo ambiente.

    Marcel Souza de Cursi

    Secretário Adjunto da Receita Pública

    Advogado Tributarista e Fiscal de Tributos Estaduais

    • Publicações7690
    • Seguidores11
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações6088
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/artigo-capitalismo-social-ou-socialismo-capitalista/2805006

    3 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

    Marcel, apreciei bastante seu artigo, porém faço aqui uma breve ressalva, no que se refere a rediscussão de direitos coletivos: acredito que este deva ser o tema mais delicado, o que necessite mais apreço e moderação em qualquer avaliação, atual ou futura. Ora, se nos deparamos com o aviltamento cotidiano dos poucos direitos que o cidadão em geral possui, como cogitar ainda dirimí-los ? E a adequação destes direitos, seria para sua efetiva aplicação ou nulidade ? Acredito que em nenhum modelo econômico a pessoa humana deva ser afastada de sua dignidade, e que essa dignidade deve provir dos esforços individuais, num nível confortável, para a produção de valor edificante da sociedade. Um dos grandissíssimos óbices do sistema capitalista praticado no nosso país, ainda praticamente intocado pelas sucessões administrativas, senão de forma demagógica e tímida, é o abismo de poder econômico. Tanto em nosso país como no maior expoente econômico do BRIC's, surgem investidores/exploradores da força de trabalho bilionários. Estes, aprendendo e praticando o modelo vigente de superconcentração de riqueza, locupletam-se com quantias capazes de manter nababescamente suas sucessões a perder de vista, sem, no entanto, dividir com o produtor dessa riqueza uma pífia parte, que mal seria notada diante do montante gerado, mas traria total diferença na qualidade de vida daqueles produtores. Observamos isto em nosso país, consternado, considerando inadmissível que o estado respeite e aplauda o enriquecimento sobejante exploratório, e desrespeite tanto aos trabalhadores ! Na própria China, gigante em crescimento financeiro, vemos ocorrer, embora de forma concentrada geograficamente, uma divisão um pouco mais justa da riqueza, fato inobservado no Brasil. Acredito, portanto, que o mais fundamental pilar da construção de uma nova realidade, verdadeiramente mais justa e digna dos brasileiros e brasileiras honestos, seja uma divisão mais justa das riquezas, de modo a favorecer o estado de bem estar social. Não falamos aqui de nenhum modelo imaginário ou utópico, muito pelo contrário : isto mencionamos com base na realidade atual da vida dos cidadãos e cidadâs dos países desenvolvidos de maior IDH. Lá, é esta a realidade, há décadas. Finalmente, para uma divisão mais justa das riquezas, haveria de ser implementada em concomitância uma política de controle de preços, visando mitigar qualquer disparada especulativa diminuidora da recente pulverização do poder de compra, e verdadeiros incentivos ao crescimento das micro e pequenas empresas, principalmente. Desta forma, acho que nosso país daria, finalmente, os primeiros passos em direção a uma condição verdadeiramente melhor a toda a sociedade. continuar lendo

    Marcel Souza de Cursi tenho meditado numa forma chamo-a de "Social Capitalismo". Diferindo do modelo chinês pelos métodos de produção onde envolveria tanto mais uso de tecnologia quanto distribuição de riqueza a maior , sim em maior proporção , rompendo com todas as formulações econômicas que colocam a mão de obra como um dificultador e não como parceiro . Se fosse inseri-lo no BRASIL de hoje teríamos excelentes escolas e hospitais públicos , sim tanto regularíamos o Capital (o próprio SOROS numa sessão do congresso americano admitiu qu a total desregulaçao do Mercado não funciona.ele o disse após/durante a crise dos derivativos) quanto cuidaríamos mais do homem .Não acredito que retirar moradores de rua e/ou matar a fome dando oportunidades descambe a Balança Comercial de qualquer País ou baixe suas Reservas Cambiais , basta não se transformar numa fábrica de vagabundos.
    Gostei muitíssimo de seu artigo e gostaria que debruçasse mais neste tema nos espaços que voce tiver. obrigado Marcel Souza de Cursi.
    SP 28/01/2018 continuar lendo

    Perfeito. Este momento chegou! (mas não foi feito o que vc recomendou...ainda...) continuar lendo